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Notícia

Cartão de crédito sustenta as vendas do comércio e dos serviços

O volume de crédito utilizado nesta modalidade de pagamento deve subir de R$ 250 bilhões, em 2019, para R$ 441 bilhões neste ano, de acordo com a MacroSector

Vanisa Pereira Souza, sócia do Eleninha Armarinhos, em Perdizes, tinha sempre de manter o caixa com trocados para atender a clientela em busca de agulha, linha e serviços de costura.

Afinal, quem vende linha a R$ 1,80 e cobra R$ 20 para fazer uma barra simples de calça, espera que as clientes paguem em dinheiro, aliás, como de costume.

Até pouco antes da pandemia, o cartão de débito já vinha substituindo parte do pagamento em dinheiro. Hoje, a principal modalidade de recebimento da loja é o cartão de crédito.

Neste mês, o pagamento com cartão de crédito, que já representa cerca de 60% do faturamento da loja, foi 30% maior do que com o de débito, de acordo com Vanisa.

“Somente as pessoas que não possuem cartão pagam hoje com dinheiro. O que as clientes dizem é que o uso do cartão de crédito ajuda com programas de milhagens, prêmios”, diz.

O volume de crédito utilizado pela modalidade de cartão de crédito deu um salto com a pandemia, de acordo com dados do Banco Central (BC).

Em 2019, o montante era de R$ 250 bilhões, em 2020, de R$ 257 bilhões, em 2021, de R$ 316 bilhões e, neste ano, deve chegar a R$ 441 bilhões, de acordo com a MacroSector Consultores.

“O uso do cartão de crédito tem sido fundamental para expandir o crédito para a pessoa física neste ano, que está mais endividada”, afirma Fabio Silveira, sócio da MacroSector.

Em 2019, o cartão de crédito representava 24% do volume total de crédito concedido às pessoas físicas pelas instituições financeiras, de acordo com o BC.

Para Silveira, este percentual deve subir para 27% neste ano. “Parece pouco, mas não é, pois a subida de um ponto percentual aumenta o montante em R$ 1,65 trilhão”, diz.

Na Benas, padaria de pães artesanais, o pagamento com cartão de crédito representa 60% do faturamento da loja, com cartão de débito, 30%, e, com dinheiro, 10%.

O pão de queijo, que custa R$ 5 a unidade, é pago com cartão de crédito, de acordo com Jon Lee, dono da Benas, localizada em Perdizes.

A taxa paga para as administradoras de cartões é maior no crédito do que no débito. Lojistas consultados falam em 3,74% e 1,27%, em média, respectivamente, sobre a venda.

Para o varejista, pode ser melhor receber em dinheiro vivo, só que a expansão do uso do cartão chegou a tal ponto que até a manicure aceita. Se não, corre o risco de não faturar.

SERVIÇOS NA DISPUTA

Em junho deste ano, último dado divulgado pelo BC, o estoque de crédito para a pessoa física subiu 25% sobre igual período do ano passado, a mesma alta registrada no primeiro semestre.

“Apesar das taxas de juros estarem subindo, mais pessoas estão tomando crédito, recursos que serão disputados pelo comércio e pelo setor de serviços”, diz o sócio da MacroSector.

O varejo está acostumado com o uso dos cartões. Os serviços entram mais agora na disputa.

Para Silveira, o cartão de crédito vai desempenhar um papel fundamental neste período de juros e desemprego elevados.

“O cartão de crédito deve ter uma participação importante na reativação da economia, principalmente no setor de serviços”, diz Silveira.

Esta modalidade de pagamento, afirma ele, vai ser importante para que o país tenha uma “uma atividade econômica tolerável, aceitável”.

Do total do volume de crédito concedido às pessoas físicas, o cartão de crédito ocupa a segunda colocação, com 23% em 2021. A primeira posição é do crédito consignado (35%).

De acordo com projeção da MacroSector, a fatia do crédito consignado deve ser um pouco menor neste ano (33%) e a do cartão de crédito deve subir para 27%.

A grande dúvida que fica entre lojistas e prestadores de serviços é se o consumidor vai ter fôlego financeiro para quitar as parcelas nas compras com cartão.

Por enquanto, a taxa da inadimplência da pessoa física não mostra sinais de arranque. De acordo com o BC, em junho, era de 3,7% nos atrasos de pagamento acima de 90 dias.

No mesmo mês do ano passado, a taxa era um pouco menor, de 3,2%, mas são números, de acordo com Silveira, considerados dentro da média histórica.

“Não vejo um grande desequilíbrio, mas uma situação de desconforto financeiro maior”, diz.

Para Silveira, o volume de crédito total concedido às pessoas físicas, incluindo as modalidades consignado, cartão de crédito, cheque especial, aquisição de veículos e bens, deve crescer 8% neste ano em relação ao ano passado, descontando a inflação.

“É um crescimento importante que deve ajudar o PIB brasileiro a crescer perto de 2%, e não de 1% neste ano”, afirma.