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Notícia

Nova classe média pisa no freio do consumo

Estudo da Nielsen mostra que, depois de cinco anos, a classe C deixou de ser a principal responsável pela expansão nas vendas

Fenômeno da economia brasileira nos últimos anos, a classe C, também chamada de nova classe média, pisou no freio do consumo. É o que mostra o estudo Tendências 1º Trimestre de 2014, feito pela Nielsen. Pela primeira vez desde 2009, este grupo social deixou de ser o principal responsável pelo crescimento das vendas de produtos de consumo rápido (alimentos, bebidas, produtos de higiene e limpeza) nos primeiros meses do ano. 

De janeiro a março de 2014, segundo o estudo, a comercialização desse grupo de produtos cresceu 7% no Brasil, na comparação com o mesmo período de 2013. E o segmento AB respondeu por 60,9% dessa expansão. A nova classe média colaborou com apenas 33,8% e, os mais pobres (DE), com 5,3%. Nos anos anteriores, a participação da classe C no crescimento das vendas de produtos de consumo rápido variou de 40% a 60% (ver quadro). 

O analista de mercado da Nielsen, Ilo Souza, diz que, embora esteja focado em produtos de consumo rápido, o estudo serve para análise do consumo de forma geral. Para Souza, a redução do ritmo de compra da classe C tem duas explicações. A primeira é que o segmento endividou-se bastante e agora vive o momento de quitar seus débitos. "Acho que esse desaceleramento está ligado ao fato de as pessoas terem parado para olhar seus orçamentos e se reorganizarem", afirma. O analista ressalta que os índices de inadimplência estão em queda no País, sinal de que o consumidor está honrando seus compromissos. 

Souza lembra que o governo passou vários anos incentivando a classe média a ir às compras. "O governo abriu crédito, desonerou IPI da linha branca, estimulou a compra da casa própria." Com o IPI voltando às alíquotas normais e o crédito mais restrito, haveria uma tendência natural de redução do consumo. 

Outro motivo que, segundo o analista, explica o menor apetite do consumidor da classe C é o cenário econômico atual. "A inflação alta tira o poder de compra da população. O mercado de trabalho, crescendo em menor velocidade, causa insegurança", declara. Ele considera cedo para se falar em tendência. "Pode ser que, já no próximo ano, a gente veja esse pessoal, de novo, liderando o crescimento das vendas", afirma. 

Souza destaca a importância do segmento. "Embora a classe AB seja quem mais contribuiu para o crescimento em 2014, a classe C ainda é o principal grupo consumidor." 

Ressalvando que não conhece o estudo da Nielsen, o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro, Fernando de Holanda Barbosa, deu sua opinião sobre a redução do consumo pela nova classe média. "A classe C teve essa grande expansão no País devido justamente ao aumento dos postos de trabalho e da massa salarial. É natural que haja uma desaceleração do consumo dessa população quando esses dois fatores também desaceleram." 

A Nielsen afirma que seus estudos não levam em conta renda familiar, mas poder de consumo das famílias. O consumo médio da classe C seria de R$ 2.199. Já o instituto Data Popular considera como nova classe média as famílias com renda per capita que vai de R$ 320 a R$ 1.120.